Escrito por Julliana Martins
Publicado no jornal O ESTADO DE SÃO PAULO em 15/09/2019
Publicado no jornal O ESTADO DE SÃO PAULO em 15/09/2019
A recessão da economia e as altas taxas de
desemprego abalaram o bolso dos condôminos nos últimos anos e vêm forçando
síndicos a cortarem gastos e otimizarem a gestão dos
recursos para garantir o equilíbrio das contas.
De práticas comuns como economizar energia a
necessidades mais burocráticas como renegociação de contratos, o desafio é
identificar o que pode ser ajustado e, de centavo em centavo, tentar aliviar
o orçamento para reduzir o valor repassado mensalmente para os
moradores.
De acordo com o
presidente da Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios de
São Paulo (AABIC), José Roberto Graiche Júnior, a tendência é que os síndicos
optem por uma gestão mais conservadora dos recursos nesse momento em que as
famílias também estão controlando mais os gastos domésticos. Assim, o foco é a
folha de pagamento dos funcionários, que consome de 55% a 65% do orçamento de
um condomínio.
“O segredo é manter uma equipe enxuta,
mas com boa produtividade. Começando com uma organização eficiente dos horários
de cada funcionário, para evitar que façam hora extra”, diz ele. Outra dica é
mirar novas tecnologias, como equipamentos que consomem menos energia e cuja
manutenção dure mais. Na área de manutenção, no entanto, Graiche Júnior deixa o
alerta para não se exagerar na economia, uma vez que uma conservação não feita
ou mal feita pode custar mais caro no futuro.
De olho na inadimplência
Inimiga dos síndicos,
a inadimplência é um desafio antigo que aos poucos se estabiliza. No primeiro
semestre deste ano, o índice médio de inadimplência nos condomínios do Estado
de São Paulo caiu ao menor patamar desde 2004: 2,9%, de acordo com o levantamento
do Índice Periódico de Mora e Inadimplência Condominial da AABIC.
Ainda que o índice tenha caído, é no segundo
semestre quando os condomínios costumam ficar mais endividados, alerta a
gerente de relacionamento da administradora Lello, Angelica Arbex. “Temos
percebido que no primeiro semestre 10% dos condomínios gastam mais do
que arrecadam. Mas nos últimos seis meses, especialmente no último
trimestre, esse número sobe para 20%. Os condomínios que fazem o
provisionamento e o rateio dessas despesas costumam ter menos ou quase nenhum
problema nessa época.”
Segundo ela, o
provisionamento orçamentário deve colocar na ponta do lápis itens como o
aumento do consumo de energia e água no verão, os reajustes contratuais e os
dissídios de funcionários.
É com foco no monitoramento
do consumo e na revisão dos contratos que o síndico profissional
Rogério Cippiciani faz com que os moradores do edifício Platinum Jardim
Guedala, na zona sul de São Paulo, não vejam aumento na taxa mensal de
condomínio há dois anos. Os gastos extras que geralmente aparecem no segundo
semestre são calculados por ele no início do ano.
Os aumentos
provisionados para este ano foram de 6,8% das contas habituais, mas Rogério
conseguiu economizar 10% apenas em renegociações de contratos. “O
contrato dos elevadores reduziu quase R$ 800 mensais. Outra ideia que eu tive
foi encerrar o contrato do portão da garagem porque não havia necessidade de
ter uma visita da empresa todo mês. A dica é fazer uma análise do que vai
aumentar, definir uma meta para o ano e tentar localizar nos contratos onde dá
para reduzir os gastos.”
O sistema
elétrico é outra opção para quem precisa fazer reajustes no orçamento.
A troca de lâmpadas incandescentes e fluorescentes pelas de LED – mais
econômicas -, o investimento em sensores de presença e a atualização de toda a
rede de fiação até a parte eletrônica do sistema podem resultar em uma redução
de quase 80% nas contas de luz, como foi o caso do edifício Jorge Flores, no
bairro Cerqueira César, zona oeste paulistana, gerido pelo síndico profissional
Edison Edgar Lamboglia.
A otimização
do consumo no inverno é outra possibilidade de economia. No edifício
Camburi, que fica na Vila Guarani, zona sul, uma das soluções para reduzir os
gastos e diminuir a cota mensal é desligar o aquecedor da piscina na estação
mais fria, o que gera uma economia de R$ 1.600 por mês.
“Essa redução me garante um fundo de reserva caso haja algum imprevisto ou erro no provisionamento”, diz o síndico Luiz Fernando, que atacou também as despesas com folha de pagamentos ao instalar uma portaria remota. Foram R$ 240 a menos por mês para cada morador.
DICAS
PARA ECONOMIZAR
1. Trocar
lâmpadas comuns por lâmpadas de LED
2. Instalar
sensores de presença nos sistemas de iluminação
3. Desligar o
aquecedor da piscina no inverno (quando pouca gente usa) ou mesmo interditar a
área da piscina nesses meses
4. Trocar
sistemas velhos, que consomem energia e geram muita manutenção, por sistemas
mais novos
5. Verificar
mensalmente se há vazamentos de água nas instalações e nos apartamentos
6. Fazer
pesquisa de mercado em busca de fornecedores com preços mais competitivos
7. Negociar
contratos antigos com fornecedores pedindo descontos, tendo em mãos os preços
da concorrência
8.
Combater a inadimplência dos moradores
para garantir as contas em dia, enviando circulares e eventualmente acionando
um advogado
9.
Ajustar a carga horária dos
funcionários, para que não façam horas extras
10. Fazer planejamento orçamentário no início do ano já
prevendo os gastos maiores do segundo semestre
11. Fazer campanhas de conscientização para economia de
água e luz com os moradores